Dedicatória a Supernova

Gostava de saber
se és tão intensa como dantes
Se algum homem te ama com metade da força que mereces
Se és sequer possível.

Não me parece.
Apesar de não te encontrar em nenhum obituário,
tenho como certo que não podes existir
Não como eras, não tu.
Podes haver como sombra do teu espectro,
mas não com o esplendor que serias se fosses.

A força centrífuga da tua paixão era tão grande que me projectou para longe
Mas aí eras ainda pequena,
uma Supernova

Agora deverias ser uma estrela
no mínimo
talvez até uma galáxia
…mas, por mais que procure
não te vejo a luz.
Isso só pode querer dizer uma coisa:

Transformaste-te num buraco negro,
onde a luz vai para morrer

Ainda tens tudo dentro de ti
mas tão implodido que nunca sairá
Pelo contrário
Tudo o que se aproximar
será sugado
Não és vazio
és criação de vazio.

Gostava de te ver com o brilho com que te imagino,
mas, se o tentar, provavelmente serei sugado para a inexistência.

Resta o que foi de nós.
O que é ou será de nós não importa.
Fiquemos nos mesmos lugares
Se há coisa segura são as memórias que nunca contamos.

É lá que ficarás. Para sempre.
Nas memórias secretas.
Com aperto de braços
e sorriso de canto de boca que só eu conheço.
Nem tu sabes quanto ainda cintilas no que passou.

Onde começas?

Onde acabas?

Acordo sempre forte,
pronto a derrotar o mundo
mas a benção dura menos do que minutos.
Penso-te outra vez.
e nunca mais paro, até me render (outra vez) ao sono.
Aí, onde nunca entra nada, nem sonho, nem pesadelo;
aí finalmente deixas-me em paz…
…ou nisso onde estou quando tu não

nunca espécie de lago inerte
nada dói, nada assusta
mas nada entusiasma
nada frui.

Que seja sempre Verão – Pablo Alborán

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Pablo Alborán

Finges que as coisas não me doem
que a tempestade não voltará
Creio em cada palavra da tua boca
Mas se escondes mais do que uma derrota
Não adivinharei tua pele

Sei que não te dás bem com o meu passado
às vezes tendo a correr
A canção onde destruo a tua armadura
Tenho coragem para me esquecer das dúvidas
Mas há finais que não quero prometer

Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”

É simples, não precisa de muito trabalho
é olharmo-nos nos olhos
E sentir que há ali algo

Tu acendes
E eu apago as luzes
Há lágrimas que não vais entender

Se iluminas, que seja toda a nossa sombra
Se ilumina-la imediatamente nos destrói
Será melhor deixar de ver

Eu sei, não te dás bem com as minhas ausências
Não há vez em que não queira voltar
Se o teu riso é a mais bela das fontes
A razão de todas as pontes
Não me quero proteger do teu destino

Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”
É simples, não precisa de muito trabalho
É tremer em cada passo
Enquanto me vou aproximando
É olharmo-nos nos olhos
e sentir que há ali algo

Tradução livre de “Que siempre sea verano” de Pablo Alborán

Que se foda a poesia erótica.

Foder um homem é necrofilia

Que se foda a poesia erótica
Contra uma parede
acabe-se-lhe com a sede
sufoque-se-lhe o pescoço

Poesia é coisa de velha
Arrepanhar lábios,
contra lábios
é de lenda

Não se é mulher, porque se quer
para ser berço é preciso colo
não é preciso força, nem falo
isso é para usar e descartar
como um acessório sem valor,
irrisório

Os homens não percebem o prazer
só sabem da sua braguilha
não percebem a virilha
não sabem que tem que doer
não sabem que amor
também é foder

Toda a mulher é ilha
toda a mulher é mãe
é boca, é cheiro, é mão
pode não ser filha
mas será sempre pão

Foder um homem é necrofilia
não se pode entrar num homem
é um ser inanimado
um homem por dentro é oco
é fisiológico,
não tem nada de elevado

Uma só mulher tem tudo,
mesmo que seja fútil,
imprestável, intragável ou inútil
ainda assim será sempre mais
do que um homem

Que não seja mal entendida,
um homem também tem valor
um homem tem lábios, mas são só lábios.
Uma mulher tem o mundo,
cheiros,
calor
e tudo isso… só nos lábios.

Onde um homem acaba
uma mulher ainda não começou.

Os Caminhos que corremos (ou se o soneto fosse assim)

As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece

Não vemos nada
e somos o que vemos
a originalidade é uma cópia adulterada
O que virmos ser, seremos

As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece

Não que não valha a pena inventar,
não que a procura não importe
é exactamente o contrário

Só é importante criar
desacreditar a sorte
Viver sendo temerário

E se ainda não fizermos nada novo
se tudo o que nos sai, já tiver sido antes

não nos ralemos com o povo
nem com o que dizem entredentes

o que sempre importou foi o caminho

mesmo se tivermos que o fazer sozinho

Para sempre poetamor

Alguém me diz quando é que o amor durou para sempre?

Alguém me diz quando é que o amor durou para sempre?
há por aí catervas de poetas a dizer que o amor é eterno.
É o raio que os parta!

Já me desprezei por ter rompido com amores eternos dezenas de vezes
e eu sou ainda petiza!
Enganam-nos toda a vida com a porcaria das princesas
e dos seus finais sempre felizes!

Não há um poeta; Um único que não seja malogrado!
Nunca existiu um poeta que fosse bem sucedido no amor!

Estou farta, cansada e batida.
O amor de que falam é tesão!
esse cansaço que dizem ser a essência da vida
é puríssima treta, completa desrazão
Eu quero tempo, quero carinho e quero tempo!
Não preciso de mulheres, não preciso de homens,
não preciso de amasso, não preciso de roço
não sou um cão que se aquieta com osso

Quero tempo, preciso de abraço
preciso de tempo com pessoas a sério
de falar e pensar com critério
preciso de silêncio acompanhado com gente
até que a beleza me seja indiferente.
As estéticas, as formas e até os conteúdos
deviam ficar todos mudos;
surdos.

E eu seria só abraço
tudo seria abraço
sem calor, nem cansaço
não precisava de durar muito
só todo o tempo
só para sempre.