Tu e eu

Isso tem algum jeito? – perguntou ela com aquele meio sorriso nos lábios que ainda hoje não me deixa dormir, nas noites em que dele me lembro.

Pensei para mim próprio que sim, que tu valias muito mais, que valias a vida em si própria, que te amava…

O que eu disse foi:

– Claro! Não que tu mereças, mas pronto!

Respondeste:

– Não mereço? É… – enquanto me fazias cócegas que se confundiam com beijos, numa daquelas comunhões que aconteceram muitas vezes intercaladas por…

Dez minutos depois disseste-me pela primeira vez:

– Amo-te.

Fingi não ouvir e perguntei:

– O quê?

Olhaste-me no fundo da alma pelos olhos, e depois de fazeres um sorriso dos que só tu sabes fazer e que vão ficar para sempre marcados nas entranhas da memória, repetiste com brilho nos olhos lindos, lindos:

– Amo-te!

Fiquei enorme, maior que tudo, mas mesmo assim pequeno para o coração a querer estoirar de felicidade. Apertei-te nos braços com força, Puseste a língua de fora, a mostrar que sufocavas, afastei-me de ti o suficiente para te olhar nos olhos e beijei o teu sorriso.

Ti.         
Dez.2005

O Eclipse

Olá, boa noite!
Dia estranho hoje, abafado, quente, agoirento! Lá estou eu a preocupar-me com coisas sem importância nenhuma, ainda por cima quando só restam parcas horas ao mundo e mais importante do que isso… a mim!

Os especialistas dizem que o eclipse é só mais um, que já houve uma data deles e que o mundo não acabou em nenhum, por isso também não era desta.

Pelo sim pelo não resolvi vir para o meu sítio favorito – o cimo desta pedra, que simboliza não-sei-o-quê-e-nem-quero-saber-até-porque-o-mundo-está-a-acabar-e-eu-tenho-mais-em-que-pensar!

Enfim, nem eu sei porque é que este é o meu local favorito, mas o que é facto é que sempre que preciso de pensar ou estar sozinho, dou comigo no cimo deste penedo a olhar para o céu, o mesmo céu para que olha o padre da minha freguesia, completamente impávido e sereno tentando convencer-se que essas coisas de o mundo acabar são “crendices” do povo, o mesmo céu para que olha a outra metade do meu coração na outra metade do mundo, o mesmo céu que viu nascer o mundo, os homens, a evolução, a revolução, a poluição, a constituição, a colonização, o mesmo céu que fez nevar no dia um (desde que se conta), o mesmo céu que me viu nascer atónito, o mesmo céu que hoje nos vai desabar em cima!

É a olhar para ele que penso em ti!

É à medida que ele se aproxima que eu te amo mais!

Vai ser quando ele me esmagar contra a terra quente e fofa, que me vou arrepender de tudo o que não te disse, dos beijos que não te dei, de todos os minutos que perdi a pensar como é que podia estar contigo, em vez de estar simplesmente. Vai ser aí que vai doer todo este tempo sem te ter – não por não querer, mas por não saber e ter medo de descobrir!

Bom, mas não falemos de coisas tristes, porque o saldo até é positivo, por isso é que parto com tristeza, porque se fosse negativo, com certeza não me importava de partir!

Vou levar recordações lindas imensas:

O teu sorriso – a maneira com ris com os olhos semicerrados, valia a pena a vida só para ver o sorriso dos teus olhos, sem côr na minha memória por não conseguir vê-los todos nas imensas escassas horas que passei a olhá-los.

Estou a ficar sem tempo e ainda não consegui dizer que és o que de mais importante há na minha vida!

Está a ficar frio… muito frio!

Estou leve… muito leve… 

Ti.
Dez.2005

Ditadura da Ciência

A evolução do mundo tem que passar necessariamente pelo descobrimento ou redescobrimento daquelas coisas que estão para além da ciência habitual.
Aquelas coisas que nos acontecem e que não sabemos explicar, mas atribuímos imediatamente a algum “erro de processamento” do cérebro.
O caminho a traçar é o mesmo que foi trilhado pelos pioneiros da ciência actual…
Questionar. E resolver as questões.
Por vezes assiste-se a algo muito parecido com a ditadura ideológica que era imposta pela igreja na idade média, mas agora a ditadura é imposta pela ciência.
Talvez pela grande fiabilidade da Ciência e Tecnologia actuais, deixamos de reconhecer tudo o que não seja avalizado por estas.
Num tempo em que até a Igreja precisa de provas para reconhecer os seus santos, como é que podemos combater a Ditadura da Ciência?

Ti.         
Set. 2005

Irmãos

Ser irmão é como ser outra coisa qualquer, não é escolhido, é uma coisa que se nos impõe, sem que tenhamos interferência nisso. Assim sendo é alguém que teria para nós tanta importância como outra qualquer, com a agravante de nos ter sido imposta e por isso talvez com alguma desvantagem…

Este raciocínio seria perfeitamente lógico se fosse. Mas não é.

Um irmão pode ser como as outras pessoas, mas isso para elas, porque para nós não. É sempre mais, ou menos, mas nunca como as outras pessoas. Há quem fique furioso por ter um irmão não-sei-como, e antes quisesse ter uma irmão mais não-sei-quê; há também os que têm irmãos que adoram e que até acham bons demais para serem seus irmãos. Seja como fôr há uma coisa que me agrada mesmo muito: O sangue dos meus irmãos é o mesmo que o meu e isso vai ser assim para sempre.

Por mais que a terra gire até ficar tonta, ou que os homens dêem em doidos, vamos ser irmãos sempre, querendo ou não.

E eu quero.

Parabéns, irmão.

Ti          
1 Agosto 2008

Vácuo

É como um aspirador no fundo das entranhas
leva tudo,
menos a dor,
aguda…

Quem dera ser novo e poder enganar-me sem perceber
mas não consigo,
sei de quem é a culpa
por mais que tente pôr a razão para tudo o que é mau nos outros,
não consigo fazer-me ver que assim é.

O sábio diz que é bom sinal, que estou a ficar como ele,
mas ele não é egoísta, ele não quer ser feliz, quer ser bom.

Eu sou só como os outros, quero que não doa…

Ti          
Dezembro 2006